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sobre desaparecer

por Anna Carolina Rizzon
anna carolina rizzon

Não é possível desaparecer completamente. Quando alguém interage com o mundo, deixa resíduos por toda parte. A frase original é mais bonita, mas enfim. Eu acreditava que para desaparecer, bastava se trancar no quarto. Hoje é mais difícil. Tem blogs que nunca consegui deletar. Deixei meu CPF em algumas notas fiscais. Meu número de celular talvez seja o mesmo para sempre. Tem gente que lembra de mim como a segunda na ordem de chamada. Tem gente que lembra de mim como a filha dos meus pais. Meus irmãos nunca me deixariam desaparecer completamente. Ou as paredes da república, onde eu anotei umas ideias, à caneta. Ou o fisco. Ou a VIVO. A fantasia de se enfiar no mato e nunca mais ver a cara de um ser humano que seja — isso é sumir, não é desaparecer. Morrer não é desaparecer, contrariando minhas crenças. Eu tenho uma lista mental de todas as pessoas que sumiram. Nenhuma desapareceu. Tem como encontrá-las, se eu me esforçar um pouco. Ainda assim, às vezes tenho a sensação de desaparecer. E muitas vezes tenho vontade de desaparecer. Mas eu vi um vídeo, há algum tempo, que dizia que 1) não dá, 2) meu corpo precisaria ficar trancado num apartamento por muitos anos, se putrefazendo, para alguém se dar conta de que eu desapareci. É meio dramático.


Anna Carolina Rizzon nasceu no Rio de Janeiro, cresceu em Teresópolis e se exilou em São Paulo. É incompetente em diversos segmentos artísticos, mas insiste mesmo assim. Especialmente na escrita. Colabora com a Fazia Poesia e a Revista Úrsula e posta aleatoriedades nos blogs vOltas h a v e r e s.

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